Mais de 100 organizações exigem ação do G20 em prol da primeira infância

As principais instituições beneficentes do mundo estão fazendo um apelo ao G20 para que o grupo tome medidas urgentes que resolvam a grave falta de financiamento para o cuidado e a educação na primeira infância. O pedido diz respeito à necessidade extrema de milhões de crianças que não têm acesso à creches ou à educação pré-escolar.

Em carta aberta ao presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, que assume a presidência do G20 no dia 1º de dezembro, as organizações afirmam que os líderes mundiais estão ignorando as evidências contundentes dos benefícios de investir na primeira infância, colocando desnecessariamente em risco o futuro das crianças.

A carta foi assinada por mais de cem organizações proeminentes da primeira infância de todo o mundo, incluindo a Fundação Lego, a Fundação Roger Federer, a Sesame Workshop e o International Rescue Committee, além de várias organizações brasileiras, como a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o Instituto da Infância – IFAN e a Visão Mundial Brasil.

Mais da metade das crianças do mundo (350 milhões) não têm acesso à assistência de que necessitam, sendo que cerca da metade das crianças em idade pré-escolar não está matriculada em algum programa de educação infantil.

“Apesar da evidência contundente dos elevados retornos do investimento em programas para a primeira infância, há uma lamentável falta de financiamento público para a faixa etária de menos de cinco anos. Enfrentamos uma crise global da primeira infância, na qual mais da metade das crianças pequenas do mundo inteiro estão perdendo os primeiros anos de creche e pré-escola de que precisam com urgência”, afirma a carta.

“Essa falta de investimento tem um impacto destrutivo no futuro da criança, uma vez que ela começa a escola já atrás de seus pares, fato que aprofunda a desigualdade e impacta suas oportunidades na vida e sua capacidade de lidar com crises futuras”, continua a carta, coordenada pela Theirworld, pela Rede de Ação para o Desenvolvimento da Primeira Infância (ECDAN) e por Amanda da Cruz Costa, ativista climática brasileira.

As normas de gênero vigentes também fazem com que o peso da crise global do cuidado infantil recaia sobre as mulheres. Os elevados custos com a educação infantil e a falta de disponibilidade são os principais motivos pelos quais as mulheres não conseguem entrar no mercado de trabalho, ou precisam abandoná-lo. As instituições signatárias pedem que o G20 retome o compromisso firmado em 2018 de investir na primeira infância, que foi interrompido pela pandemia de Covid-19 e pela crise econômica global.

O presidente Lula anunciou que o tema do G20 será “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”. Entretanto, especialistas argumentam que esse cenário só pode ser alcançado com o aumento do investimento na primeira infância. “Investir na primeira infância é uma obrigação moral e uma vitória estratégica para o G20. O Brasil definiu o objetivo de construir ‘um mundo justo e um planeta sustentável’. O cuidado na primeira infância é crucial nessa missão: é a fase da vida em que se erguem os alicerces para um futuro próspero e equitativo para todos. A realidade inegável é que, sem apoio nos primeiros anos, as crianças correm o risco de viver em condições piores de saúde física e mental. Elas enfrentam dificuldades para aprender e, mais tarde, garantir o próprio sustento”, explica Justin van Fleet, presidente da Theirworld.

A carta pede ao presidente Lula, cujo país lidera iniciativas relacionadas aos direitos das crianças e tem investido no desenvolvimento da primeira infância, “que vista esse manto de liderança ao assumir a presidência do G20”.

Sarah Brown, presidente da Theirworld, afirmou: “Os primeiros cinco anos de vida são uma oportunidade única para o desenvolvimento da criança. Contudo, tanto as crianças de países ricos quanto pobres sofrem um desamparo em nível global. Isso traz consequências para todos, especialmente para as mulheres, que são sobrecarregadas pelo peso da crise dos cuidados na primeira infância, e se veem forçadas a abandonar o mercado de trabalho devido ao custo inacessível das creches.

“O G20 é uma excelente oportunidade para mudar essa situação, dando às nações líderes a chance de se comprometerem a pôr um fim à crise global da primeira infância. É hora de os governos avançarem e proporcionarem às crianças a melhor oportunidade de construírem um futuro melhor e mais próspero.”

A carta faz parte da Act For Early Years, uma campanha global que vem crescendo e ganhando espaço, apoiada por centenas de organizações de proteção à infância, empresas, celebridades e jovens ativistas. A campanha reivindica uma transformação no cuidado na primeira infância. É fundamentada por um relatório extenso e contundente, que revela o tamanho dessa crise. Elizabeth Lule, diretora executiva da ECDAN, afirmou: “Os benefícios dos cuidados de alta qualidade na primeira infância estão bem documentados e se propagam por toda a sociedade.”

“As crianças se beneficiam ao serem expostas a ambientes estimulantes em uma fase crítica de seu desenvolvimento. As mulheres se beneficiam com a oportunidade de permanecer ou entrar no mercado de trabalho e de construir independência financeira. E as economias locais e nacionais se beneficiam à medida que novos empregos são criados, a renda familiar cresce e as receitas fiscais aumentam.” Uma pesquisa inédita encomendada pela Theirworld concluiu que crianças no mundo inteiro estão sendo privadas de educação e cuidado nos principais anos de sua formação, devido ao custo cada vez maior das creches e pré-escolas.

A pesquisa foi realizada com 7 mil pais e responsáveis em todo o mundo e mostra que, a cada três pais no Brasil, mais de dois (68%) enfrentam dificuldades para pagar a creche, valor acima da Índia (52%), dos Países Baixos (57%) e da Nigéria (59%). O número só foi maior na Turquia (72%) e no Reino Unido (74%). Além disso, mais de sete em cada dez pais do Brasil (73%) dizem que tiveram que fazer grandes mudanças em sua vida financeira para fechar as contas no fim do mês. Mais de um quarto (28%) tiveram que aumentar a carga de trabalho para não ficar no vermelho.

(Com informações da Theirworld).

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